quarta-feira, 28 de julho de 2010

Encontros de gente

O Carnaval do Arlequim - Joan Miro

É necessário desmistificar o escritor. Acabei de ouvir isto do Lobo Antunes. Atirei-me para trás do meu eu, enterrei-me na procura da minha benquerença pelas pessoas. Gosto de pessoas, depois gosto de quem escreve, como gosto dos que não escrevem mas que falam, dos que fazem alegria, dos que me dizem com os gestos o que afinal nenhuma palavra é capaz de dizer: - estamos a viver, estamos a ser felizes, naquela quantidade certa que faz de nós apenas pessoas como sempre fomos. Posso então emergir do conforto do anonimato, da solidão, do silêncio. Encontro gente como eu, gente que também vive num mundo seu e que eu afinal desconhecia, gente com medo de viver, apenas viver. O tempo perde agora parte da sua importância e os temores acabam por se ajanotar para a romaria da confraternização. O medo de não saber escrever, de dar erros, das concordâncias traiçoeiras, das formas mal amadas da poesia pessoal, que não traz afinal vida para dentro de que a lê. Sucumbiu, entregou-se de mãos algemadas ao momento, afinal o que gosto mesmo é de viver. Gosto tanto da cultura do sorriso, da vontade de rimar com todos aqueles que partilham comigo um canto de uma mesa onde a arte são os sorrisos. Gosto tanto de gostar, e pelo meio até que sou capaz de fazer uma poesia de amor, ainda ontem, ao ouvido, deixei cair uma alegria edificada pelo convívio – estás tão bonita. Mas a emoção era grátis neste dia, e do outro lado uma mana, veio de longe, mas não vinha cansada, trazia uma vontade pura de me dizer que eu era importante. Mais á frente e como o vento, uns olhos negros cheios de vida, corre contra o tempo com um sorriso que abraça todos aqueles que acreditam na juventude. Gosto deste vento, é igual a um que tenho em minha casa, genuíno, puro, e capaz de fazer coisas no mundo. Esta energia é um Mar de afectos, entrega-nos o futuro com uma vontade indomável de o tornar passado. O momento ficou ao rubro, mandei vir mais uma mini, completamente atestada de álcool, há momentos que são para comemorar. Alucinei, a meu lado todos os avatares eram vida, e até os cabelos parados que olho no papel, são uma brisa, enrolam-se-me nos olhos para gritarem viva à poesia da vida. Esta foi uma noite especial, saí com a certeza plena de que um dia me tornarei num best-seller, quanto ao Nobel, que se lixe, um dia destes faremos uma fundação de gente que ama a vida para além das palavras. O prémio será uma mesa redonda de sorrisos, onde a poesia está no círculo dos avatares que riem.

José Luís Lopes

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