domingo, 15 de agosto de 2010

Poemas de amor

Vincent van Gogh (1853-1890). "Arles - Dois Amantes"

Há por este mundo fora, uma quantidade de “poetas” a compor poesia de amor. Alguma poesia muito boa, outra má e depois inevitavelmente, como em quase tudo na vida, e sempre em grande quantidade, os que a fazem mais ou menos. No entanto, toda esta poesia tem o mesmo propósito: estabelecer com as palavras conexões de afectos capazes de transmitir ao leitor a alegria ou a tristeza que vive em cada poeta.
Temos então várias nuances de poemas de amor: alegres, tristes, saudosos, nostálgicos, religiosos e até diabólicos. As palavras escolhidas à lupa pelos autores é que determinaram o estado de alma de cada texto e o sentido que lhe querem dar.

Testemunho, felizmente, todos os dias esta realidade aqui neste nosso cantinho das palavras. Gente fantástica, sincera, linda, sensível, tocante, com palavras eloquentíssimas, cantam o amor, desenterram-no de lugares inimagináveis e transformam o sentir em autênticos tratados do bem escrever sobre o amor. Arremessam-nos para êxtases do mais puro encantamento, libertamos momentaneamente toda a bondade existente dentro de nós, sentimo-nos felizes por podermos ler e sentir algo que nunca imaginávamos capazes de sentir por intermédio de um conjunto de palavras.
E é com esta poesia escrita / cantada sobre o que é amor que Homens e Mulheres escritores se tornam Deuses para os leitores.

O leitor está sempre ávido de saber sempre um pouco mais do amor dos outros para tentar juntar ao dele, quer este leitor guardar estas palavras e quem sabe um dia usá-las também junto do seu amor. Afinal de contas, quantos leitores não se sentiram também eles magoados com o seu amor? Quem não sofreu já com palavras de amor ditas e não correspondidas? Ou então palavras de amor que nunca tiveram a coragem para sair de encontro ao amor apenas porque tinham medo de o perder? Estes leitores somos todos nós que estamos afinal, sedentos de uma poção mágica, queremos apenas um conjunto de palavras que nos faça sentir somente bem, felizes por uns breves momentos.

Estes autores passam então a figurar nos nossos favoritos e, mesmo sem os conhecermos ficamos, agrilhoados aos seus textos, sentimo-los parte de nós, sentimos então assim como “coisa” nunca imaginada mas que agora é como se fosse nossa desde sempre. Sentimo-nos finalmente em casa de nós mesmos e tudo à custa das palavras de outros, é a poesia no seu melhor.
Mas depois, quando caímos em nós, e compreendemos que a leitura afinal tem um fim, e as histórias de amor de verdade nunca acabam, percebemos que a grande parte dos poemas de amor, mesmo os bons, esquecem-se do mais elementar para se tornarem num poema de amor verdadeiro: de nos fazer chorar, contar o nosso amor em lágrimas.

Um poema de amor tem que ser como um filme, tem que ter dentro de si a vida vivida, o sacrifício partilhado, o perfume das primaveras aprimoradas de mãos dadas, tem que ter o tempo que foi conquistado ao tempo de cada um, tem que ter o brilho da vida com os sorrisos do momento em que foi construído o amor.
O amor não nasce com um estalar dos dedos, é necessário um momento mágico, aquele que ditará todos os poemas que um dia vamos querer escrever e que nunca será o nosso melhor poema, apenas porque fica sempre aquém do amor que sentimos, só as lágrimas soltas no momento da escrita são capazes de nos dizer que, afinal, ainda estamos a viver aquele momento mágico de amar.

Então choramos, choramos não muitas lágrimas, não são um pranto de um tempo irremediavelmente perdido, são mel das memórias, da graça de termos tido aquilo que continuamos a pensar que por graça de Deus ou destino, fomos, afinal, abençoados com a única pessoa no mundo capaz de transformar lágrimas salgadas em doçura. E, por muito frugal que cada letra seja ela é capaz de exprimir o que, afinal de contas, nunca dirá por culpa do amor; estamos ainda apaixonados e o poema quando termina, mesmo a dizer que é um hino ao amor, tem que continuar a ser ainda poema. Fechamos os olhos e lá está ele, arrebatador, nascido do que de melhor há em nós: o Amor único, pelo único amor da vida – O verdadeiro.

E mesmo na mudez das palavras, nos silêncios, quando todas as imagens do infinitamente amor nos fazem tremer, o poema continuará a dizer, como eco da montanha mágica onde todos os Deuses se reúnem para abençoar as palavras verdadeiras, “é poema de amor porque é feito de amor, para o único e verdadeiro amor da minha vida”.
Um poema de amor tem de dizer: estou aqui amor, estas palavras são para ti, são puras e reclamam que chores comigo; sente-me, hoje estou assim, choro porque quero ser o teu poema de amor-perfeito.
Um poema de amor é intemporal e terá que dizer sempre: sou e serei sempre teu eternamente. Todas estas palavras juntas, são apenas para te fazer sentir especial, mais especial do que ontem, em que ainda não tinha escrito este poema de amor, mas já o sabia desde a primeira vez que te vi.

Um poema de amor tem que saber dizer: agora tu também sabes desta minha dor interminável, ainda é a mesma, aquela dor de que um dia te falei. É a dor que corre dentro de mim, na tristeza do dia em que te disse mas na alegria das minhas memórias, mas não interessa porque hoje tenho este poema de amor que é apenas o meu poema de amor para ti.
Um poema tem que ter toda a vida, aquela que está, afinal, em cada sílaba, tem que ter a cor e a fantasia que a vida sempre cria com o nascer do sol, tem que ter aquele - SIM ACEITO, especial, que nos obriga para sempre a tudo se tornar num poema de amor.

Um poema de amor é uma confissão que olhos não necessitam de ver, é um tratado de amizade tão especial que nenhuma palavra do mundo é capaz de dizer o que afinal deveria ser um poema de amor entre todos os homens e mulheres que nascem um para o outro.
Um poema de amor tem em cada palavra uma mão que te afaga e, entre cada palavra, nos espaços vazios, estão os segredos que não podem ser contados, porque são segredos de amor verdadeiros, que só tu e o teu amor os compreenderão.
Um poema de amor é um foral de lealdade selado pelo acariciar das mãos, pelo tocar dos olhos, e dos lábios nascer apenas a palavra mais verdadeira e que apenas o momento de todos os momentos da vida é capaz de construir, amo-te meu amor, amo-te muito.

Nasceu então um poema de amor eterno, e mesmo que mais ninguém o saiba ler, ou apenas dizer eu também gostaria de ter este poema de amor como meu, não interessa, é o teu poema de amor, aquele que tu irás acariciar para toda a vida.
Um poema de amor pode até nunca ser lido ao amor da sua vida, mas não importa, bem lá no fundo, o poema sabe que existe porque o verdadeiro e único amor continua a ocupar a vida de quem escreve apenas por amor. As estrelas no céu, essas, sabem escuta-lo e, passarão a brilhar ainda mais com as lágrimas que correm do poema.


Este texto nasce após leitura do poema “AQUÉM” da nossa colega Luso, Ana Martins. Dedico-lhe esta minha reflexão em forma de agradecimento pelo belíssimo poema com que presenteou os seus amigos e leitores. Obrigado por fazeres parte deste nosso escrever.


AQUÉM

Esquálidos versos
cinzelam minhas mãos
Nunca uma rima
mitigará a pena
gravada no peito
Nunca uma estrofe
espelhará a dor
da tua ausência
Nunca um poema
será um hino
justo e perfeito
ao nosso amor.


Três de Março de 1980, terça-feira de Carnaval, num pequeno baile de garagem havia uma menina com 15 anos muito bonita, a mais bela de todas as meninas que naquele dia dançavam alegremente. A essa menina, de seu nome Maria João, pedi-lhe que me concedesse o prazer de uma dança. Bailamos, bailamos, sempre cada vez mais amarradinhos, tão amarradinhos que fui obrigado a pedir-lhe que namorasse comigo (era assim no passado). Passaram trinta anos e continuamos amarradinhos. Este texto também é dedicado a esta mulher fantástica que gentilmente partilha a minha vida.

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