terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Futebol jovem: Onde nasce a vergonha









No sábado fui à “bola”. O meu filho, pela primeira vez faz parte de um clube de futebol, O Maximinense. Nunca fui muito destas coisas da bola para jovens, sempre exigi muito mais dos meus filhos do que andar a correr aos chutos a uma bola, sim, porque isto de “Ronaldos” são meia dúzia de casos, e eu prefiro as certezas do conhecimento adquirido, fruto do esforço de correr atrás dos livros. Com dezasseis anos, no décimo primeiro ano, com notas sempre acima da média, acordei com o meu filho, as regras que determinariam a sua continuação ou não, no mundo do futebol. Sei que o desporto faz falta, mas sei também que é agora o momento mais crítico do seu percurso escolar, e brevemente serão determinantes as décimas para poder entrar num curso que destinará para o bem ou para o mal, o resto da sua vida tanto pessoal como profissional. Nesse momento não haverá “futebóis”, recargas, bolas à barra, nem sorte ou azar, e muito menos a desculpa por o árbitro não assinalar a grande penalidade mais que evidente. Todos sabemos como vai ser o seu jogo no mercado de trabalho, e há uma grande possibilidade de ficar no banco dos desempregados a engrossar as listas de jovens licenciados à procura do primeiro emprego.

Mas, preocupações para os pais existirão sempre, com mais ou menos emprego, e como Pai que sou, resolvi apoiar o meu filho, dizer-lhe que não é apenas no sucesso dos seus estudos que estou a seu lado, mas também no prazer dos tempos livres a que tem todo o direito pela sua conduta na vida escolar, e por isso, fui vê-lo jogar.

Entrei no campo, felizmente ainda não se paga para ver os miúdos jogar, o nosso Primeiro ainda não se lembrou de mais esta fonte de receitas para ajudar a pagar o défice. Sentei-me calmamente na bancada de cimento, mais ou menos a dois metros do relvado, e ao centro do rectângulo, com a claque do Realense a uns dez metros à minha direita. Supostamente os adeptos da casa estariam à minha esquerda.

O jogo começa a desenrolar-se, no mesmo instante que a bola começa a saltitar um sujeito no banco do Realense (quis me parecer que talvez fosse o treinador), berrava com quanta força tinha nos pulmões. Pensei que o pobre homem, a todo o momento poderia sucumbir de uma qualquer síncope pulmonar, fiquei preocupado! Mas até aí tudo bem, o dito senhor deveria saber o que estava a fazer. Para meu espanto, e que grande espanto, o treinador, insultava os seus jogadores de todos os nomes e mais alguns. Ficou-me nos ouvidos quando em pose de MISTER o sujeito disse: - ó paneleiro …, qualquer coisa mais, sem valor futebolístico. Um pequeno exemplo insignificante, para a linguagem em constante ligação directa aos piores vocábulos que o Mister tinha em algibeira, para fazer subir o rendimento dos seus pupilos.

Não quis acreditar no que estava a ver e a ouvir! Era demais para um Sábado de sol, como aqueles em que antigamente as esposas ficavam a fazer tricô nos carros sem medo de serem assaltadas, enquanto os maridos assistiam aos jogos de futebol. Bons tempos estes da minha juventude.

Voltando à realidade, interrogo-me: Mas é um sujeito destes treinador de jovens? O Mister, como diz o meu filho? É com este senhor que os pais deixam os seus filhos treinarem semana após semana? Pensei e falei para com os meus botões: O meu filho, nem um minuto ficaria ao lado daquele “treinador”. Desporto juvenil (e não só) não é isto! Um sujeito armado em Mister, que possivelmente nunca conseguiu treinar uma equipa da regional, é agora o “exemplo” de um grupo de jovens, e completamente tresloucado chega a um lugar público, onde há mães, irmãs, amigos ou seja lá quem for, e liberta todas as frustrações de uma vida, armando-se em treinador duro, daqueles que está convencido que é com aquela linguagem que faz homens de barba rija. Senti vergonha e não queria acreditar que o sistema permita que alguém com aquela conduta esteja à frente dos seus jovens.

Mas o mais grave, é que havia uma “claque” de Real, possivelmente composta por pais de alguns miúdos, que para que o seu Mister não se sentisse sozinho, insultava o árbitro e o juiz de linha, com todos aqueles adjectivos que o futebol já nos habituou. Nem queria acreditar, como é possível que os pais dos miúdos tenham um comportamento pior do que o seu “Mister”? Como não consegui entender, imaginei que talvez estes paizinhos também treinem com o dito Mister durante a semana, para que depois nos jogos estejam todos em sintonia, e não destoar do cômputo geral do “bom desportista” que se vê nos nossos campos de futebol. Não tenho dúvidas que o Real tem uma “grande equipa” daquilo que não se deve ter no desporto. Mister e claque podem chegar longe e levar o nome da sua terra à glória. Diria mesmo que já atingiram um feito: ao fim de duas jornadas, já estão no jornal. Depois, dizem que os miúdos agridem os professores, insultam os colegas, e tem linguagem imprópria, não me admira! Diria mesmo que com um Mister assim, todos os miúdos podem tirar vinte à disciplina de português, e quando algo correr mal na sua vida profissional, num futuro próximo, podem sempre recorrer aos métodos do “Mourinho”, do Realense, para resolverem um qualquer diferendo ou até incentivar um amigo e mais tarde os seus filhos. Resta-me dizer, que os miúdos em campo, deram uma lição aos adultos que estavam na bancada, as duas equipas foram brilhantes, em futebol e educação. Quanto ao árbitro e seus adjuntos, bem! Reconheço que deve ser muito duro andar no meio desta selvajaria. Eu, garanto-lhes que saía do campo, entregava o apito a um dos paizinhos, e mandava-o arbitrar. Tenho a certeza que não o saberia fazer. Se mandasse talvez os mandasse arbitrar como trabalho comunitário, ou então obrigava-os a frequentar um curso intensivo de como ser pai e dar o exemplo aos filhos em noventa minutos de desporto. Agora percebo muito do que vejo acontecer nos nossos estádios de futebol. Percebo porque estão vazios, e o porquê das cenas vergonhosas que passam, e entram pelas nossas casas. Só não entendo é porque a Associação de Futebol de Braga, ou quem de direito que coordena este sector, não actua e mete ordem nesta ordinarice. Independentemente da sua formação futebolística, com curso ou não de treinador, o importante é que prevaleça os princípios básicos da boa educação, sendo este, um complemento aquela que é dada pelos pais, pelos professores e toda a comunidade educativa que os acompanha.

É necessário um presidente de um clube com responsabilidade, saber que é da sua responsabilidade dar bons exemplos aos jovens da sua freguesia, e no mínimo, uma comunidade que não deixasse cair os seus filhos nas mãos de um pseudo-treinador, mal-educado, e incapaz de ajudar a construir homens válidos para o futuro.

Já disse ao meu filho que não mais voltaria a ir ao campo, e no meu caso, nem necessário é a direcção pedir para fazer boicote aos jogos. Não fui capaz de impedir o meu filho de continuar a jogar o seu futebol, o treinador do Maximinense portou-se dentro dos parâmetros do que deve ser um Mister de miúdos, mas em boa verdade vos digo; se o treinador fosse por acaso o do Realense, aí era certo, que o meu filho nunca mais entrava no clube enquanto aquele senhor por lá permanecesse.


PS. Não quer dizer que do lado do Maximinense não houvesse ruído. Houve! Mas graças a Deus apenas o que é “normal” num campo de futebol. Para a história ficou o resultado: Maximinenese – 0, Realense – 1, o que seria se tivessem perdido? Nem quero imaginar.

 
José Luís Lopes



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Zero









O capitalismo também se apresenta em lata, e agora, para decepar os resistentes, nasceu a zero, zero calorias. A Coca-Cola conquistou o mundo da escrita, as palavras tombam embriagadas de cafeína. O artista não dorme, devassa a noite em glosas marginais. Contorce-se o papel em mãos geladas. Amanhece. Solta-se o dia, e todas as palavras ensopadas, ensonadas e encravadas organizam-se em música. Começa a Tocata e fuga em ré menor, Johann Sebastian Bach. Saia um expresso rápido por favor, tenho o carro mal estacionado e um pacto de estabilidade para fazer cumprir.

José Luís Lopes



sábado, 4 de dezembro de 2010

O palhaço que não ria

Januário acabara de se sentar na mesma pedra que durante anos com ele escutava o silêncio do rio. Era ali, que todas as manhãs recebia o nascer do sol e com ele as vestes de mais um dia, igual a todos os que deixou para trás.
Um homem, que todas as noites pintava o rosto, subia ao palco e oferecia gargalhadas, as crianças vibravam, os adultos perdiam a noção do tempo envolvidos nas hilariantes palavras que de improviso o palhaço largava entre tombos e cambalhotas atribuladas.
O sol despia os raios nas serenas águas a deslizar pelas margens que agora estavam adornadas por cimento, construção humanas que reinventaram a aparência desta paisagem. A transparência do rio já não era hoje o que foi outrora, mas os sons eram os mesmos, melodia que conhecia os timbres do coração deste solitário homem. Quarenta anos, são muitos dias muitas horas no mesmo navegar.
A imagem de Elvira estava gravada nas correntes do rio, assim como as últimas palavras que trocaram com os rostos salgados e os lábios húmidos de um longo beijo…
- Porque partes tu?...Fica, é aqui que o futuro te espera e a felicidade está esboçada nos rostos rubros ciosos de partilha.
- Do lado de lá do oceano estarei sempre a escutar os mesmos sons do mar, contemplarei os abraços fogosos da areia nos dias de tempestade marítima. Olharei o sol nascente e o teu sorriso será o alimento do meu destino. – Respondeu Elvira escondendo no sótão da alma a tristeza e revolta desta viragem do destino.
- Não voltarás, e eu não irei…é aqui que distribuo felicidade, é aqui que tenho o coração acorrentado…o destino é um traço que não se apagará mas que será ténue em todas as auroras, o teu rosto será a utopia de um mero vendedor de sonhos que o seu sonho não pode definir…
A jovem apertou ainda com mais força as mãos do seu amado, beijo-lhe os lábios…e correu, correu sem deixar que o olhar voltasse atrás!
Estas imagens eram a película infindável dentro do âmago de Januário que cumpria o ritual da solidão em todos os segundos da sua existência desde o tempo que o vento lhe limpou as faces. Não chorava…mas também não ria, havia esquecido como rasgar os lábios em sã alegria.
Contudo assim que o seu olhar encontrava uma imagem humana, sorria, vociferava palavras de ânimo e atirava aos amigos os melhores gestos de felicidade.
Pelas ruas, já se movimentavam os quotidianos do dia, os carros avançavam rapidamente e as pessoas atropelavam a pressa em correrias que Januário conhecia no rigor da sua sensibilidade apurada pelo silêncio que vestia sem urgência…
Ergueu-se.
-Até amanhã! – Vociferou com o olhar voltado ao sol.
Então caminhou em direcção a casa onde iria preparar mais um espectáculo para essa noite…As luzes da ribalta aguardavam mais um rufar dos tambores, os holofotes intensificavam-se em cada cadeira que se preenchia, nenhuma ficava vazia sempre que os seus pés pisavam o palco!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Realejeiro"













Hoje acordei com uma caixa de música na cabeça. Depois de um forte esforço supra-matinal lembrei-me do realejo. A questão que se curvou sobre o meu ar ensonado do antes do pequeno-almoço é saber que nome se dá ao homem que toca o realejo. Nada me ocorreu na memória colectiva, recorri com a destreza possível das manhãs à memória selectiva e o resultado foi o mesmo, mais um nada. Depois de farto o estômago, cansado da longa travessia do vazio da noite, com um “petit dejeuner” leve, mediterrânico pobre, pão com manteiga magra e uma meia de leite directa, esta tirada numa Nespresso do famoso actor George Clooney, e uma almoçadeira “xpto” com os dizeres: “Breakfast”. Percebi o motivo porque se fala tanto na globalização, o estrangeirismo está por todo o lado, faltou-me o Financial Times ao lado da tosta, e aquele ar de “self-made man” que a todo o momento arranca para o mundo dos negócios amarrado a “long cashmere coat”, “paraguas” e “petite serviette en cuir noir”. Não aguentei a pressão da ignorância e abalei em busca do conhecimento, tem que haver um nome para o homem que toca o realejo. Parti das premissas filosóficas do geral para o particular: - Se os homens dos relógios são relojoeiros, logo os homens dos realejos são realejeiros. Não me suou muito bem! há nesta palavra um paladar avinagrado, aziumado, assim… tipo iogurte fora de prazo. Percebi, talvez tardiamente, que um homem que toca uma caixa de música nunca poderia ser realejeiro, impossível, esta palavra não tem dignidade, estaleca, não é arrebatadora, ninguém ouve um realejeiro por muita arte que o homem da música tenha a dar à manivela, (isto pensava eu, verão que vou mudar de ideias). Apenas os nomes simples perduram na história, Manel, Maria, tia Alzira, Tio Tone, Arménio, Quim, Sr. Silva ou então um com “pedigree”, com sangue azul, um nome que só de olhar absorva toda a história dos antepassados, estou por exemplo a lembrar-me dos Pauliteiros de Miranda, o exemplo não podia ser melhor, o nome diz logo que estes gajos são do tempo do Viriato, e os paus são apenas um pormenor, esta região tocaria outra coisa qualquer, o seu DNA é daqueles que não engana, e a música apareceria nem que fosse a bater com calhaus em latas de salsichas. Pensei então que o nome mais apropriado para o homem do realejo seria realejumúsico. Se este homem faz música tem toda a lógica este nome. Mas a questão é saber que tipo de música o homem do realejo toca e se isso poderá influenciar o nome da sua arte. Imaginei um realejeiro a tocar jazz, bem, o nome sofria logo uma mudança substancial, para cativar os aficionados do jazz o melhor seria o realejeiro chamar-se ou “realjazemúsico”, isto é, se este tivesse importado a caixa de New Orleans e a música produzida pela manivela permitisse imitar a trompete do Louis Amestrong. Depressa compreendi, que este nome ligado ao jazz era bastante castrador para os realejeiros da música popular, os ditos pimbas, e que nunca ouviram jazz. Ficariam ligados a uma música influenciada pela comunidade negra, coisa que a nossa terra não está preparada, por aqui o fado ainda é que dita as regras. Mas ainda há os nórdicos, os homens de cabelo loiro e olhos azuis, desgostosos com a conotação do instrumento à cultura do cabelo encarapinhado e pele escura, é certo e sabido, que este gajos emproados não iriam gostar, e o mais certo é o aparecimento de um movimento anti-realejo. Estou perante um caso daqueles que em linguagem popular se pode dizer de bicudo. Vou ter que ter muito cuidado com as tendências musicais, não posso castrar a clave do sol, o sol quando nasce é para todos, logo todas as tendências musicais tem que se rever neste novo nome. Não sou homem para desistir de nada, mas depois de várias pesquisas “científicas” on-line, enciclopédia Luso-Brasileira, dicionários de várias línguas incluindo o chinês, o marroquino, romeno e o dos PALOPs, e outros meios que dispunha para levar a cabo esta espinhosa tarefa, concluí que afinal o nome que a linguística portuguesa construiu para este fazedor de música “box” é afinal um nome bem simples: O Homem do Realejo! Abriu-se uma brecha na história para mim, posso finalmente criar um nome de um fazedor de arte musical com manivela, uma arte milenar com um novo nome para o homem criador de sons perfeitamente ligados entre si, quer isto dizer, música. Este novo nome terá a dignidade que há muito tempo é devida a estes homens da música. Será um nome próprio, capaz de ser sindicalizado, e suficientemente aglutinador para levar em frente a sua primeira associação de classe, suficiente forte para defender os seus interesses e capaz de lhes devolver a dignidade que nunca tiveram. Estou espantado comigo, acabei de fazer uma regressão histórica, voltei às lutas dos trabalhadores do século XIX em Inglaterra, à revolução das massas, dos direitos do operariado, do movimento sindical, da conquista do salário justo, das desigualdades enfim, a luta do proletariado contra o grande patronato. Estou estarrecido, pela primeira vez faço parte da história, o meu nome será a Grândola Vila Morena dos realejeiros, sou a revolução de uma classe. A partir de hoje o Homem do realejo será o realejeiro com toda a dignidade que merece. Estará ao mesmo nível dos relojoeiros, sapateiros, pistoleiros, politiqueiros. Sinto-me satisfeito, não por mim que sou um insatisfeito compulsivo, sinto-me satisfeito pelos realejeiros de todo o mundo, e sei que não são poucos. Mais tarde ou mais cedo a humanidade perceberá a importância dos realejeiros no desenvolvimento da arte musical neste novo mundo global. Mas importante mesmo, é este acordar louco de um louco como este que vos escreve com prazer.


José Luís Lopes



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ilusão de Óptica


Há planícies inteiras a desbravar novos montes de terra. Deviam espreitar para dentro delas mesmas e redescobrir novas sementes para poderem germinar novos temas.

Há tantas e novas sementes à espera de serem semeadas.

Assim se apalpam as palavras para que os temas surjam em jeito de tinta fresca a pintar os painéis do futuro. Não se podem abafar as sementes, pois elas germinam em cada polegar, tal como estes meus molestando as teclas de um teclado inactivo.

(Ilusão de óptica, será esta a minha fachada, onde me visto por dentro e me dispo por fora?)

Prontifico-me para lhes semear no ventre todas as novas sementes que caíram enquanto dormia sobre a erva molhada. Sempre que abria os olhos, era um céu virgem que me encantava, e a terra, essa esperava as sementes caídas dos meus olhos. Ilusões que se perdem nos cantos esverdeados que pinto nas paredes do meu quarto, enquanto não durmo. Esta insónia que não me larga, este canteiro de ervas secas a picar-me a pele.

Zangão, digo eu, nesta ilusão de óptica, pronta a furar-me os olhos.
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Dolores Marques

Ler mais:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=161172#ixzz15Y1DhbF9

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Derby - Guimarães / Braga 2010

Alguém disse uma vez: " o que é preciso para o mal triunfar, é que os homens bons não façam nada”.

Todo o país (quase), valorizou os cinco a zero com que o FC do Porto brindou o Benfica, alguns até se vangloriaram da vitória com cheiro a humilhação, como se a humilhação estivesse ligada às derrotas. No meu caso, no meu habitat, sempre que me falam em humilhação associo à honra, e nunca às derrotas. Deste modo, penso que o homem é sempre resultado do meio com que interage, já dizia Piaget, e com toda a razão. Ontem, as bolas de golfe esgotaram em Guimarães, espero o resultado do derby minhoto com os bracarenses com ansiedade. Acredito, que os vencedores vão ser mais uma vez os desportistas do costume, aqueles que apesar de trazerem a honra pendurada ao pescoço, encheram as suas colunas da net (facebook) com a espantosa demonstração de grandeza de um clube e continuam a pactuar com toda a sujeira nacional dos homens do nosso desporto. O passado para eles justifica o futuro, em jeito de: se os outros fizeram, agora também podemos fazer. Brilhante e eficaz esta sorte de saber pensar assim, tudo no mundo é justificável, mato porque o teu tio já matou, ou então compro árbitros porque o teu clube já comprou. “Fantástico Mike, vê como resultou, passamos o pano e todas as nódoas saíram”, dizia um vendedor de produtos on line na TV.
Se dúvidas tinha sobre a grandeza desta gente que faz um grande clube, hoje, estou quase a acreditar que cairão por terra. O Futebol Clube do Porto e os seus sócios, deram mais uma belíssima aula dos bons costumes do povo da Invicta, de como deve ser um bom jogo de futebol: bolas de golfe, galinhas e outras coisas mais. Agora tudo aponta que o Guimarães se torne também num grande clube e já só falta saber quem vai ser o próximo a ser grande.
Mas o silêncio vai continuar, e os “bons” vão continuar a festejar as vitórias, mesmo aquelas que não são feitas na justiça deste país, e que para isso sejam obrigados a não ter you tube. Resta-nos mesmo a justiça divina.
Aguardo serenamente pelo resultado, obviamente no meu sofá, aqui por casa ninguém joga golfe e as galinhas estão congeladas.

José Luís Lopes

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pensa(mente)

O Pensador - Eduardo Pinho

Continuo a pensar. Penso como esta coisa de pensar pode ser importante a esta hora da noite. Tenho uns amigos loucos que dizem sempre que pensam muito. Imagino que deve ser por se acharem pensadores. Toda a vida os ouvi murmurar, em voz que bem pode ser alta, que são exímios pensadores. Nunca percebi muito bem o que eles pensavam. Penso que talvez por isso possam ser mesmo muito inteligentes. Bem, talvez também possa acontecer de que eu sem saber, por ignorância pura, possa ser ainda mais louco de que eles.

Vou dormir.

Antes de dormir deixo a minha reflexão:

(1 - Pela manhã posso ser outra pessoa; 2 – Posso não me lembrar de nada; 3 – Ter outro entendimento sobre loucura; 4 – Já não ter amigos; 5 – Não querer saber do que pensam os amigos; 6 – Um etc. fica sempre bem num texto.)

Talvez possa existir um conflito de interesses, pessoais, digo eu. Estamos ainda no plano de animais racionais.

José Luís Lopes

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Facebook pergunta: em que estás a pensar?



…no tempo que dedico aos outros, e na falta de tempo que os outros tem para comigo, por acharem que o meu tempo não é tão importante como o deles. Talvez o erro seja meu, o meu relógio é dos antigos, encrava com facilidade com a aceleração do ritmo sanguíneo, coisa do sistema nervoso. Dizem os entendidos, que há uma ligação quase umbilical entre o relógio e o batimento cardíaco que faz toda a diferença no acerto dos tempos. Acredito! Vejo o ponteiro dos segundos a correr num ritmo infernal, sabe-se preso a um círculo que corre mais depressa que qualquer tempo. Os segundos não existem para gente que apenas conhece o seu tempo. No entanto, e diga-se em abono da verdade, que muitas vezes o marcador do meu tempo pára por falta de corda, induz-me em erro. Preocupado como sou, acabo sempre por chegar antes da hora real, aquela que é marcada em Inglaterra e que faz do Big Ben o meu relógio favorito. Bonito, grande, com uns ponteiros que saltam sempre que passam de minuto em minuto, diz-nos pela sua imponência, o respeito que temos que ter pelo tempo universal. Bem sei que estou para aqui a divagar, estou com tempo, é Domingo e tenho a roupa passada. Por sua vez, a máquina da roupa tem um relógio que sempre que acaba de torcer a roupa, apita para que eu tenha consciência do que tenho que fazer para não me faltar o tempo mais tarde. O mesmo se passa com o microondas, também este já veio com um relógio que não só marca o tempo mas também a intensidade da temperatura. Fantástico! Digo eu. Uma mariquice diria a minha avó, talvez até achasse que era coisa do diabo. Mas com tanta coisa para regular o tempo que temos obrigatoriamente que gastar, esquecemo-nos de arranjar um relógio com um apito que marque o tempo que temos para gastar com os que de perto merecem o nosso tempo. Alguns destes novos humanos, munidos de máquinas de relojoeiros consagrados, acabam por tentar fazer do seu tempo o verdadeiro tempo, chegando atrasados ao meu tempo. Estas esperas até que acabam por me trazer um tempo que até há bem pouco tempo não tinha, e sou agora capaz de pensar sobre as falhas dos tempos dos outros. Cheguei a uma conclusão, não sei se será uma grande conclusão, porque reconheço, que a idade muitas vezes já só me dá os bons exemplos para apoiar os raciocínios: No meu entender, talvez seja ignorância ou até talvez distracção. Hoje, os relógios não tem números, e a maior parte das pessoas anda perdida no meio de mostradores, uns que deveriam mostrar mas que no fim de contas não mostram nada. Estou seriamente a pensar, em comprar um swatch quartz, daqueles que dão horas na cabeça dos outros, quem sabe os possa acordar para a minha realidade temporal. Então, se houvesse um com uma porta para sair cucos, ficaria ainda mais feliz.

José Luís Lopes

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Carta aberta aos meus amigos Lusos


Sigo diariamente tudo o que por aqui se vai passando neste Luso de escrita e contra-escrita. Fiquei na dúvida se deveria ou não intervir, isto é, escrever o que penso. Afinal, ao fazê-lo, estou também eu a subscrever a contra-escrita, não que esta me aflija enquanto forma de criatividade dos autores, até penso que será salutar, e se for criativa, até acaba por trazer mais diversidade a este espaço, muitas vezes carente de novas ideias e novas escritas.

O que mais me incomoda, são os ataques constantes, que diariamente surgem neste espaço. Começo seriamente a pensar que talvez não me reste outro caminho que outros colegas tomaram, sair e bater com a porta. O problema é que, e como diz o ditado,”não há nada como o primeiro amor”, e isso aconteceu comigo e com o Luso. Foi aqui que dei os meus primeiros passos a escrever para gente que desconheço, gente de outras terras e paragens com outras maneiras de ser e dizer coisas. Foi aqui meus amigos que me senti pela primeira vez escritor, bem sei que sou um escritor de letra pequena, mas mesmo assim, nem imaginam como eu fico feliz por receber um elogio. Como eu sonho e me imagino a escrever então coisas inimagináveis, e quem sabe, receber mais de mil comentários a dizer-me que as palavras são grandiosas. É este Luso dos sonhos que eu quero. Necessito de poder sonhar com cada palavra que aqui quero dizer, é aqui que eu falo para dentro de mim e digo: -José, tens que trabalhar mais, tens que ler mais, tens que te esforçar mais. É aqui que deixo lágrimas, não pensem que é só o Zé Torres que chora, eu também choro por não ter mais capacidade de escrever. Queria tanto! Meu Deus, tantas vezes me interrogo porque não apareceu o Luso mais cedo? Talvez assim eu fosse melhor escritor, talvez assim eu conseguisse um dia editar um livro, convicto de que os meus leitores não seriam aldrabados. Ainda me lembro, do dia que aqui entrei, e nem um comentário tive. A minha vontade foi desistir, partir, afinal eu era mesmo mau! Nunca iria escrever coisa nenhuma.

Apareceu o primeiro comentário, depois outro, e outros, e eu iludi-me, comecei a sonhar, e a querer escrever melhor, e sempre mais. Como estava feliz! Um dia, alguém me disse que eu sabia escrever, foi um dos dias mais felizes que eu tive no Luso, acho que me deixei ficar a olhar para a mensagem horas. Ainda hoje guardo aqui dentro o aroma desse dia, é a medalha da minha vida. Assim cresci, assim fui melhorando na escrita, e a gratidão, essa, irá morrer comigo, para todos aqueles que me deixaram os primeiros comentários. Esses, não foram os escritores consagrados do Luso, foram os “pimbas”, aqueles que mandam flores, beijinhos e abraços. Talvez alguns não saibam escrever muito bem, talvez alguns não tenham a melhor forma de estar aqui no Luso, talvez tenham defeitos, talvez alguns graves, talvez até capazes de merecer expulsões, mas porra, foram estes que me carregaram às costas, até eu ter confiança para escrever, assim, como o faço hoje. A esta gente, estou sempre com um obrigado na boca, são estes os verdadeiros fãs, foram estes que me disseram que eu era capaz, e me deram todo o tempo necessário para melhorar. “Obrigado a todos vós”, são as minhas palavras.

Depois o tempo, o bom tempo passado a escrever, deu-me a conhecer as pessoas. Ainda mais bonita ficou a escrita, lembro-me por exemplo da Cleo, que bem que escreve, adoro ler esta MULHER! Guardo desde sempre um carinho enorme por esta colega. A Dolores! Bem, desta posso dizer que sou amigo. Porra! A escrita dá-me tanta coisa, e esta mulher das Beiras, está sempre pronta a dar tudo para me ajudar a evoluir na escrita e sempre com um carinho. Que bom é falar com ela. Ana Martins! Mulher fantástica. A escrita arranja cada coisa! Quantas vezes falamos ao telefone e deixámos cair umas boas gargalhadas, e aquelas PMs a desejar uma boa noite. Que maravilha. Depois veio mais uma quantidade de gente como eu, que gosta de fazer amizades. Por último, pude conhecer o José Torres, frequentar a sua casa, partilhar da sua família e amigos. E aqui, deixem-me dizer que já muitas vezes discordei da sua linha de pensamento e de alguns dos seus textos. Mas meus amigos, sempre fomos capazes de falar, e do outro lado da escrita está realmente outro homem, um homem como eu com defeitos e virtudes, mas que me recebeu em sua casa com um abraço sincero. Poderia falar na Mar, como eu gosto desta miúda, nunca o avatar me tinha dito coisa nenhuma desta colega que tem a idade dos meus filhos. Ainda tão nova e com tantos sonhos. No Arlindo Mota, que homem fantástico, como é bom saber que colho amizade por terras do Sado, ainda guardo em prateleira distinta os livros que com amizade me ofereceu. Na Alexis, na Roque Silveira, no Cristóvão que conheci recentemente e que é um colega fantástico, no meu amigo Rogério de fradelos que maravilha de amigão, na Sãozinha, que, apesar de distante, deixa-me muita saudade. A Conceição B, a Maria João horroris causa, da Vóny, que sempre me incentivou, da Ana Coelho e do seu marido, que casal fantástico, da Vânia, que adoro, a Fátima com aquele beijo azul, sempre a fazer de mim o melhor poeta do mundo,e os meus amigos António Bernardino da Fonseca e a sua esposa Olema.

Não tenho palavras para tanta amabilidade e carinho, um gesto bonito, aquela obra que guardou para mim do encontro do Luso em Dezembro. Queiram os meus amigos saber, que a partir daí, desse encontro com este casal maravilhoso, gente que gostou de mim apenas porque me leu, essa amizade estendeu-se até á minha família, mais particularmente ao meu filho. Que gratidão maior se pode ter quando alguém ajuda um filho? Gratidão, sim! Ao Luso também, o nosso luso, que afinal faz magia. Deixem-me dizer-vos, chamem-me criança se quiserem, mas eu acredito nestas coisas, naquilo que de bom ainda há no nosso Luso. Amigos falo do Luso, falo das palavras que todos escrevem. Isto tem que acabar, esta casa não pode continuar dividida em duas facções. Todos aqui são importantes, todos fazem o Luso, todos! Os bons e os maus é que dão cor a esta casa, e nos fazem aqui voltar cada dia. Por mim aqui vos digo, eu não tenho lado, nunca terei, a todos eu devo esta minha felicidade de escrever, a todos. Nunca me irão ler que não mais comentarei este ou aquele, mas também não contem comigo para apoiar insultos à vida pessoal dos autores. Deixo apenas uma sugestão: se realmente querem cortar relações com A ou B, o que também me parece que daí não vem mal nenhum ao mundo, usem as MPs. Afinal são os vossos assuntos, e que só a vós vos diz respeito, e que eu, enquanto utilizador deste site para escrever nada me interessa.

Caros Colegas de escrita, deixo-vos aqui estas minhas palavras para vos dizer que todos são importantes, todos contribuem para esta minha vontade de vos dizer que sem vocês eu não era nada, creio mesmo que nenhum de nós era nada sem os leitores! Eu gosto de escrever e gosto de vos sentir perto da minha escrita.

sábado, 25 de setembro de 2010

São os brasileiros mal tratados no Luso?

Pedro Américo - Grito do Ipiranga

Estes dias um colega meu aqui do Luso, fez referência a um tratamento menos elegante por parte dos portugueses aos usurários brasileiros, assim como aos que por opção, optam por uma escrita de cariz religioso. Bem, falarei por mim que não sendo ninguém neste site de escrita, já levo nesta casa cerca de ano e meio e a única coisa que me apraz dizer é o seguinte: Vou começar pela descriminação religiosa. Muitos autores tem tendência para recorrer diariamente na sua escrita a mensagens de cariz religioso, nada a opor, a liberdade de escrita também inclui este ramo, religioso, no entanto, é bom lembrar que quando se faz uma saudação de uma determinada religião, seja ela qual for, do outro lado pode estar uma pessoa que não quer saber da religião coisa nenhuma, ou tem mesmo uma outra religião. Que fazer?

No meu entender mandar uma MP ao seu colega e pedir para não incluir mensagens religiosas nos comentários aos seus textos. Aqui, termina uma liberdade e começa outra, apesar daquela teoria de que quando postamos alguma coisa passa a ser pública, volto a reafirmar que tenho as minhas dúvidas sobre esta teoria, ou pelo menos de parte dela. Se um autor já pediu para não haver manifestação nos seus textos de uma qualquer palavra ou mensagem de cariz religioso, na minha opinião deve ser respeitado, mesmo sendo esta pública. Liberdade é isto mesmo, respeitar o espaço dos outros, reparem que não estou a falar do contraditório de opinião, apenas num tipo de escrita ou mensagens, que pode mais parecer um novo método de pregar o evangelho porta a porta, como nós bem conhecemos aqui.

A escrita é livre, façam-no como entenderem, o texto é vosso e só lê quem quer (obviamente com aquelas ressalvas todas que já sabemos). Mas em boa verdade, desde que estou aqui nunca assisti a um único conflito sobre este tema, até pelo contrário sinto uma grande tolerância religiosa, até por aqueles que não querem saber de Deus nenhum. Por isso, creio que a questão é muito mais uma questão pessoal, e da qualidade da escrita, do que propriamente um problema religioso. Mas passemos em frente que esta não é a questão principal, aquela que de vez em quando aparece aqui no luso sempre que há problemas entre autores. Muitas vezes esta questão parece-me mais aqueles jogos políticos, onde cada facção tenta encontrar mais apoios para a sua causa, é nesta altura que surgem sempre umas afirmações que enquanto utilizador deste site, me preocupam.

Acredito que de forma pontual, um ou outro autor possa ter num ou noutro escrito um desempenho menos digno com um ou outro colega escritor, no entanto, não creio que essa indelicadeza tenha por base a sua nacionalidade. Acredito, que muitas destas indelicadezas tem muito mais a ver com a qualidade da escrita do que outra coisa qualquer. No entanto, não senti nunca que houvesse um ataque organizado aos nossos colegas do outro lado do atlântico. É claro que estou a falar por mim, autor, escritor, usurário seja lá o que queiram entender, mas jamais eu calaria a minha voz, se um dia sentisse que um qualquer grupo de portugueses tentasse ferir um qualquer cidadão brasileiro de uma forma organizada. O que aqui já assisti, e várias vezes, é uma discussão pela palavra “dita” portuguesa e a “dita” português do Brasil. Mas meus amigos, o Luso é diferente do que se tem passado em Portugal e no Brasil nas discussões infindáveis sobre o acordo ortográfico? Não, não é! Mas não vejo que daqui venha mal ao mundo, cada “facção” deve lutar por aquilo que entende melhor para uma língua que afinal é usada pelos dois países. No entanto, o que eu quero aqui dizer é bem mais fácil do que essa retórica que os autores ou utilizadores querem fazer crer ao escrever. Eu, enquanto usurário desta casa que tanto gosto, nunca permitiria um qualquer tratamento humilhante a um colega meu aqui no Luso, fosse ele brasileiro ou chinês.

Tenho gente do outro lado do mar que gosto muito, e com alguns, incrivelmente, parece que já nos conhecemos desde sempre, tais são as afinidades criadas aqui no Luso. E não me venham com histórias de que há deste lado gente má e do outro só gente boa. Há gente má aqui e lá, e todo o Luso sabe disso, e a única solução é dar-lhes o caminho todo. Por mim, sei exactamente qual é o meu papel aqui dentro do site, e sempre que sentir que algo menos correcto possa existir de uma forma organizada e que vá contra os meus valores, intervirei. Se forem questões pessoais entre colegas, ficarei no meu lugar, quieto. A liberdade deles não é menor do que a minha. Assiste-lhes esse direito de confrontarem ideias. O bom senso não se ensina, a usurários que na sua maior parte já são chefes de família, terão que ser eles a descobrir esse bom senso, até porque é a única forma de serem tolerados neste crivo diário que vamos fazendo muitas vezes injustamente. Por mim vos digo, nem sei se há brasileiros neste site, talvez porque fui habituado a gostar das pessoas independentemente do que elas são ou onde moram, sei apenas, que há gente aqui que mora no Brasil, bem longe da minha casa, e isso realmente não gosto, gostaria que vivessem mais perto deste meu poiso, assim, talvez eu pudesse ir beber um “choupinho” com os meus amigos brasucas.

Aqui fica uma das poucas coisas que eu não gosto do Brasil. A distância mata-me! Mas a raiva de não lhes poder dar um abraço ultrapassa o acordo ortográfico e qualquer diferença do português. Para terminar digo-vos apenas que um dia estava eu no Brasil numa daqueles bares rodeados de palmeiras e sol e um funcionário perguntou-me se eu era argentino. Fiquei mau, apetecia-me dar-lhe uma boa coça. Eu falo espanhol?

José Luís Lopes

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Amigo

 Amizade - Pablo Picasso

Amigo, bem sei que esta palavra é muito complicada, mas eu gosto demais destas cinco letras juntas. Trouxe-as de um tempo distante, aprendia-as em minha casa, estas palavras têm que ser primeiro aprendidas em casa, para depois poderem ser usadas numa rua qualquer, num café, num encontro de amigos, num jantar, ou até mesmo aqui, no Luso. Interrogo-me o porquê de valorizar tanto estas palavras, e tento encontrar razões válidas para ter a certeza que esta minha satisfação seja eterna. Quero continuar a ter esta palavra Amigo como companhia, assim poderei sempre usá-la para fazer dos meus amigos ainda mais amigos. Esta palavra é realmente fantástica. No passado, a educação era muito mais severa do que nos dias de hoje, mas agora que estou na meia-idade, percebo que afinal, aquela que eu tive não foi assim tão diferente do que os pedagogos escrevem por aí nesses livros, onde quase sempre se distinguem por saberem tudo, mesmo aquilo que não se consegue saber. Mas esta gente é assim, tiram um canudo qualquer e depois fazem da educação uma coisa nova, esquecem-se que tem tantos anos como o homem. O meu Pai apesar de vestir a figura de chefe de família, como na altura se exigia incessantemente, foi capaz de compreender a minha juventude, e conforme eu ia crescendo mais ele me verbalizava que também já tinha sido jovem.

Sempre que tinha oportunidade lá me ia dizendo que a vida era uma coisa séria, e era necessário ter umas quantidades de virtudes para singrar neste mundo sempre complicado. A educação era feita com intervenções pontuais, o beijo do bom dia com o romper do dia, o beijo da boa noite com a ida para a cama, o respeito pelos mais velhos, bem uma panóplia de coisas que hoje parecem estar em desuso para muito boa gente, modernices, coisas que naquele tempo não cabiam na maneira de ser dos mais velhos. Mais tarde, já eu me parecia mais com um adolescente responsável, obrigava-me a cumprir uma quantidade de regras mais de acordo com a barba que ia crescendo, lembro-me de uma que me revoltava, era filho do patrão, mas o horário de trabalho tinha que ser comprido religiosamente. Tínhamos de dar o exemplo. Este era o meu Pai, chefe de família, dono de uma responsabilidade que era a de fazer de mim homem. Depois vinha um outro Pai, aquele que apenas eu sabia que estava lá, intuição de filho creio eu, mas talvez pela juventude incapaz ainda de perceber verdadeiramente aqueles sinais de proximidade.

Só mais tarde a idade me deu essa sabedoria. Este era o meu pai amigo, aquele que compreendia a minha juventude, este Pai era o máximo, tenho tantas saudades desse tempo. Ó meu Deus, seria bom ter apenas mais uma oportunidade para lhe poder dizer tanta coisa que ficou por dizer. Sei que nada posso fazer para voltar ao passado a não ser escrever, escreverei então. Quando eu chegava com o romper da manhã a casa, feliz por poder estar com os meus amigos nas borgas, ele esperava-me no cimo das escadas, e perguntava: – então! a noite correu bem? Hoje deve ter sido uma noite fantástica pela hora! Eu lá lhe respondia da maneira que sabia, pouco há para dizer a um Pai nestas circunstâncias, pensava eu. Hoje, talvez lhe explicasse um pouco mais da noite, talvez lhe dissesse uma das muitas ocasiões que me tinha rido entre os amigos, hoje, eu sei que ele compreenderia muito melhor do que eu imaginava o que é a juventude. Nunca mais me esqueço do dia que tirei a carta de condução. Com carta, com carro, e já com o meu ordenado, ele sabia que naquele fim-de-semana o automóvel comprado por ele seis meses antes não iria parar. Eu era jovem, e a energia aliada à alegria da conquista de mais um meio para voar não daria descanso à viatura.

Abriu a carteira e deu-me uma quantia de dinheiro que dava para encher o depósito umas quantas vezes. Só um Pai diferente saberia ler a minha juventude naquele tempo, os meus sonhos. Liberdade com máxima responsabilidade. Amizade foi o que sempre houve no meu Pai, tanta que hoje toda aquela que eu tenho de nada vale, é miserável, não fiz nada por ela, herdei-a, nem trabalhei para a ter. Sou afinal um miserável de homem que ainda tem tanto para fazer. Um dia, já o meu Pai doente, e velhote, deslocava-se a um banco na minha cidade, um sujeito na casa dos seus quarenta anos, dirigiu-se a ele e disse:

-Sr. Lopes, o Sr. não sabe quem eu sou, mas eu sei bem quem o Sr. é. O Senhor, sempre me oferecia dois rebuçados em criança, e nem imagina como isso era fantástico! Chorei ali a seu lado, o meu Pai sempre trazia rebuçados para as crianças no bolso, no tempo em que nem os ricos os comiam. Fazia acontecer milagres, estes que eu hoje ainda acredito. Hoje, ainda guardo a inveja que todos os meus amigos me tinham por eu ter um Pai especial, também eles eram servidos pela compreensão. Eram até estes que lhe davam conta dos nossos maiores feitos na noite bracarense, coisa que o meu Pai sempre respondia com um sorriso e com uma palavra de um homem que não envelhecia. Este homem que tinha passado as “passas do Algarve” queria para o seu filho aquilo que nunca teve.

Por isso, quando vejo por aqui gente a desdenhar da amizade, a culpar o mundo, a desconfiar das virtudes das pessoas, eu sempre tenho um truque em memória para apagar o mau estar que me provocam, lembro-me do meu Pai, da minha casa, do labor que ali havia para fazer os filhos mais felizes. Que melhor posso eu crer? Para esses, que estão de mal com o mundo eu deixo um conselho, e se nunca tiveram uma casa onde a palavra amigo era servida diariamente entre sorrisos e carinhos, não venham com morais bacocas para cima de mim, esforcem-se, coloquem a inteligência de parte, as diferenças e façam a sua própria casa, com esse valor de amizade. Talvez assim deixem de desconfiar do mundo, talvez assim se encontrem, e quem sabe conseguem escrever poesia sem rima, daquela que sai do coração, sem mecânica e sem desconfiança.

Eu, por mim digo-vos não valho nada, tudo que tenho foi-me dado pela minha casa, esta tinha uma família que agora sinto cada vez mais forte. Aos meus filhos, quero que saibam tudo do avô, a avó ainda é viva e feliz. Já de mim sabem quero que saibam que gosto da juventude deles, gosto dos jovens, de todos os jovens, principalmente daqueles que tem sonhos, gosto de os ver felizes, gosto de os ver sorrir, gosto que me olhem nos olhos e saibam que também eu um dia fui jovem, com amigos, com noitadas, com palermices, com um milhar de coisas que apenas se encontra nesse tempo. Agora, tudo faço para os compreender, mas não têm que me agradecer nada, eu nada fiz, têm de agradecer ao avô, Lopes. Ainda hoje, o lugar dele está por ocupar, por isso é que não deixo ninguém tratar-me por Lopes, não sou, nunca estarei confortável com esse nome, mas sou um José Luís que gosta da palavra amigo, em minha casa ou no Luso, não somos num lado, o que não somos no outro.

Aos que desconfiam desta palavra aconselho-os a deixar a poesia, esta é feita de palavras amigas.

domingo, 12 de setembro de 2010

Um dia de sol

O sol - Edvard Munch

Sabes quantas vezes tento descobrir o sol num dia de sol? Ainda hoje, lembrei-me de o ver, abri a janela e lá estava ele: grande, brilhante, amarelo e a sorrir. Pareceu-me que estava naqueles dias de aquecer todos aqueles que se abrigassem no seu manto amarelo. Abeirei-me dele e sussurrei-lhe uma graça, disse-lhe que tinha uma dor de dentes num monte distante. Pedi-lhe para desviar um dos raios mágicos que me tocou com humor para outra direcção. Senão puder ir pelo seu pé, apanha um táxi. Quem sabe possa levar um analgésico para fazer da solidão uma montanha de palavras com sentido ao som de um violino suíço.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Quase Outono


(imagem, André Louro de Almeida)
*
Se me encontrares perdida no topo de uma montanha, vê-a como um refúgio para os males de que padece a minha alma. Diz-lhe que também tu procuras um poiso, toca-a como se tocasses uma nuvem que descansa sobre as margens de um rio e diz-lhe de um mundo que ruiu a seus pés. É quase Outono! Contudo, ainda não sei onde semeei a dor que me traz e me leva ao centro onde mora a minha vontade. Creio que me esqueci de mim, ou que me fui embora numa viagem sem retorno.

Se todas as sementes fossem lançadas na terra e deixadas ao acaso numa sementeira composta debaixo da terra molhada, fariam a grande travessia anexada à vida que se encontra como o restolho nas baixas marés. Quem sabe veria os meus pés criarem raízes, e subiria tão alto como a gigantesca floresta dos Himalaias e ficaria lá para a eternidade. Falaria com todos os ventos e todas as tempestades que meus olhos viram, quando me perdi nas diferenças entre ser o amor, ou ter o amor prostrado aos meus pés. Quem sabe, saberia distinguir como escalar uma montanha e plantar temporais, esperando que algum momento me trouxesse à vida. Avanço na medida exacta do meu pensamento, mas nada me fará erguer os braços e nem apontar na direcção onde reside o mal, a não ser que esse mal tenha criado raízes e vicissitudes à custa de um mal ainda maior, que é saber onde perdi a fé; se no interior de cada um dos meus sonhos, se na nascente de onde vieram as minhas lágrimas irrigando a terra seca, onde enterrei o meu corpo. Há momentos que me trazem outros, mas esses, eu renego porque me sinto como um meteorito a rasgar as entranhas da terra, que me mostra tantos outros caminhos e eu nada vejo. Fechou-me os olhos para sempre, esta cegueira migratória por não se saber digna do maior bem que reside abaixo dela - a liberdade de criar raízes e voar rumo ao céu onde me espera a minha alma.

Se ao dar um passo em frente, me encontrar bem no meio do círculo desenhado pelo meu ângulo de visão, esse será sempre à custa de novos traços, equiparados ao movimento que a minha alma dá, ao acordar no cimo da montanha. Mas se der um passo em falso, e cair no vácuo onde enterrei o meu corpo, isso será um sinal, de que o retrocesso é imediato e a dor que caminha ao meu lado, me levará à terra onde meu corpo descansará até a próxima colheita.


Dolores Marques

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Carpideiras

COSTA JÚNIOR - 'Carpideiras'

Em tempos idos, contratavam-se para incorporar os funerais, umas senhoras pagas que tinham como função, chorar para fazer crer que o defunto era muito querido no seu habitat. Davam pelo nome de carpideiras. Nome pomposo, bem engendrado, tinham quase sempre trabalho assegurado e assim, viviam à custa da desgraça dos outros. Esta treta toda para dizer que aqui no Luso é o contrário, o carpideiro, não chora, nem lágrimas tem, veste-se de escritor e escreve imaginando que sabe redigir com afinco, as palavras difíceis.

Busca-as constantemente nos dicionários dos consagrados, traz umas quantas para a sua algibeira, mistura-as, e vai colocando uma a uma acreditando que vem da linhagem do Eça, inclina a folha sempre que imagina que vai botar algo especial para o papel, capaz de arrebatar um qualquer prémio literário. Este (papel) não acaba em nenhum Top de autores, mas acaba por se tornar mártir, pelos maus tratos a que esteve sujeito. Pendurado no poder, arroga-se em dores que não lhe pertencem, imaginando que a distância entre a folha e o papel o protege dos maus vizinhos. Vive à custa dos outros e de favor em favor, lá lhe dão um premiozinho encomendado.

É a vida de um tareco com mangas-de-alpaca, nada que não seja notícia nos nossos telejornais. Diariamente, são eles os Job for the boys, traduzindo em linguagem poética dá mais ou menos – trabalho para os que não sabem fazer merda nenhuma. Isto é, vive também á custa do que os outros fazem. Assim nasceu este meu texto, alinhavado ao menino que se julga homem, ao roto que ainda não descobriu que vai nu, ao pobre coitado, que, ainda não descobriu que a escrita serve para agredir, mas também, serve para levar com as palavras aguçadas por escribas como eu, que não querem coisa nenhuma, de gente que não é coisa nenhuma. É bom que se habitue ao contraditório, é bom que não veja no avatar fraquezas, é bom que saiba que a injustiça me fará perfilar na dianteira das palavras e de lança na mão, defenderei com honra a verdade, mas principalmente os mais indefesos e que em mim acreditam.

Quanto aos mangas-de-alpaca que por aqui gravitam, podem sempre escrever o que bem entenderem, eu gosto, e cá estarei para as curvas. Jamais ficarão sem resposta, verão até onde vai o tamanho da minha pena.

domingo, 29 de agosto de 2010

Esta mania de dares pérolas a porcos

Diz o “poeta” que teima em escrever: A grandeza da escrita passa pelo não silêncio. Diz o provérbio chinês: “Nada digas quando o saber te diz para permaneceres em silêncio”. Porra, já não basta a loja dos chinocas e agora ainda tenho que lhes aturar os provérbios. Como não digo o que quero dizer sem dizer? Esta coisa de pensar é uma chatice enorme, digo eu que gosto de provérbios sábios que não interfiram com a minha liberdade. Se nada deves dizer ao Poeta que sabe escrever, como faço para que o Poeta, que teima em escrever, saiba que nada me obriga intelectualmente a nada lhe dizer? Vou ter que lhe dizer, imperativo de ordem moral. Porra, isto está a ficar confuso para mim. Logo, tudo que eu penso sobre os provérbios cai por terra ao dizer ao Poeta que sabe escrever, e nunca mais vou poder guardar provérbios como exemplos de vida. Merda, a minha casmurrice obriga-me a fazer isto ao Poeta que teima em escrever. Já não é só o imperativo moral que está em causa, mas a minha capacidade de jamais vender a minha liberdade. Nasci selvagem e assim morrerei. Pensando bem, vou arranjar uma tripla maçada. Se opto por cumprir o provérbio fico a remoer. Fico aborrecido comigo, mas cumpro o provérbio sábio. Os remorsos irão corroer-me por dentro até que a alma vomite a covardia. A opção seguinte, é deitar para trás das costas o provérbio e faço do Poeta que sabe escrever, o que sempre faço com todos aqueles a quem tenho algo para dizer: digo na cara, sem medo das canetas, do génio, das artimanhas, das facas e canivetes, das multidões, dos tarecos e até dos lampiões que alumiam a passadeira vermelha. A última opção e realmente a mais sábia é mandar-me abaixo de Braga e digo-me: és um poeta da merda que tentas escrever mas não fazes da escrita a tua vida, não ganhas dinheiro com ela e pelo contrário, dás a ganhar. Tens sempre que pensar e dizer o que pensas e acabas por gastar tempo com poetas que ainda são menos do que tu. Esta mania de dares pérolas a porcos. Sendo assim, com os tarecos jamais perderei o meu tempo, só falo ao chefe e quando eu entender. Deste corpo com alma, apenas conheço a minha vontade, o resto, são restos que caminham por aqui, buscando a glória que nunca tiveram. Haja piedade pelos moribundos que escrevem.

José Luis Lopes

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Namoro a cavalo (Álvares de Azevedo)




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Voz: Frederico Salvo
Musica incidental: "Espalhafatoso" - Ernesto Nazareth

*****

Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.

Alugo ( três mil reis) por uma tarde
Um cavalo de trote ( que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito...mas furtado.

Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda Comédia – em casamento...

Ontem tinha chovido...Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama.

Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me todo lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namoros
Entre os dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com as pernas para o ar, sobre a calçada...

Dei ao diabo os namoros. Escovando
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...


Álvares de Azevedo


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domingo, 15 de agosto de 2010

Poemas de amor

Vincent van Gogh (1853-1890). "Arles - Dois Amantes"

Há por este mundo fora, uma quantidade de “poetas” a compor poesia de amor. Alguma poesia muito boa, outra má e depois inevitavelmente, como em quase tudo na vida, e sempre em grande quantidade, os que a fazem mais ou menos. No entanto, toda esta poesia tem o mesmo propósito: estabelecer com as palavras conexões de afectos capazes de transmitir ao leitor a alegria ou a tristeza que vive em cada poeta.
Temos então várias nuances de poemas de amor: alegres, tristes, saudosos, nostálgicos, religiosos e até diabólicos. As palavras escolhidas à lupa pelos autores é que determinaram o estado de alma de cada texto e o sentido que lhe querem dar.

Testemunho, felizmente, todos os dias esta realidade aqui neste nosso cantinho das palavras. Gente fantástica, sincera, linda, sensível, tocante, com palavras eloquentíssimas, cantam o amor, desenterram-no de lugares inimagináveis e transformam o sentir em autênticos tratados do bem escrever sobre o amor. Arremessam-nos para êxtases do mais puro encantamento, libertamos momentaneamente toda a bondade existente dentro de nós, sentimo-nos felizes por podermos ler e sentir algo que nunca imaginávamos capazes de sentir por intermédio de um conjunto de palavras.
E é com esta poesia escrita / cantada sobre o que é amor que Homens e Mulheres escritores se tornam Deuses para os leitores.

O leitor está sempre ávido de saber sempre um pouco mais do amor dos outros para tentar juntar ao dele, quer este leitor guardar estas palavras e quem sabe um dia usá-las também junto do seu amor. Afinal de contas, quantos leitores não se sentiram também eles magoados com o seu amor? Quem não sofreu já com palavras de amor ditas e não correspondidas? Ou então palavras de amor que nunca tiveram a coragem para sair de encontro ao amor apenas porque tinham medo de o perder? Estes leitores somos todos nós que estamos afinal, sedentos de uma poção mágica, queremos apenas um conjunto de palavras que nos faça sentir somente bem, felizes por uns breves momentos.

Estes autores passam então a figurar nos nossos favoritos e, mesmo sem os conhecermos ficamos, agrilhoados aos seus textos, sentimo-los parte de nós, sentimos então assim como “coisa” nunca imaginada mas que agora é como se fosse nossa desde sempre. Sentimo-nos finalmente em casa de nós mesmos e tudo à custa das palavras de outros, é a poesia no seu melhor.
Mas depois, quando caímos em nós, e compreendemos que a leitura afinal tem um fim, e as histórias de amor de verdade nunca acabam, percebemos que a grande parte dos poemas de amor, mesmo os bons, esquecem-se do mais elementar para se tornarem num poema de amor verdadeiro: de nos fazer chorar, contar o nosso amor em lágrimas.

Um poema de amor tem que ser como um filme, tem que ter dentro de si a vida vivida, o sacrifício partilhado, o perfume das primaveras aprimoradas de mãos dadas, tem que ter o tempo que foi conquistado ao tempo de cada um, tem que ter o brilho da vida com os sorrisos do momento em que foi construído o amor.
O amor não nasce com um estalar dos dedos, é necessário um momento mágico, aquele que ditará todos os poemas que um dia vamos querer escrever e que nunca será o nosso melhor poema, apenas porque fica sempre aquém do amor que sentimos, só as lágrimas soltas no momento da escrita são capazes de nos dizer que, afinal, ainda estamos a viver aquele momento mágico de amar.

Então choramos, choramos não muitas lágrimas, não são um pranto de um tempo irremediavelmente perdido, são mel das memórias, da graça de termos tido aquilo que continuamos a pensar que por graça de Deus ou destino, fomos, afinal, abençoados com a única pessoa no mundo capaz de transformar lágrimas salgadas em doçura. E, por muito frugal que cada letra seja ela é capaz de exprimir o que, afinal de contas, nunca dirá por culpa do amor; estamos ainda apaixonados e o poema quando termina, mesmo a dizer que é um hino ao amor, tem que continuar a ser ainda poema. Fechamos os olhos e lá está ele, arrebatador, nascido do que de melhor há em nós: o Amor único, pelo único amor da vida – O verdadeiro.

E mesmo na mudez das palavras, nos silêncios, quando todas as imagens do infinitamente amor nos fazem tremer, o poema continuará a dizer, como eco da montanha mágica onde todos os Deuses se reúnem para abençoar as palavras verdadeiras, “é poema de amor porque é feito de amor, para o único e verdadeiro amor da minha vida”.
Um poema de amor tem de dizer: estou aqui amor, estas palavras são para ti, são puras e reclamam que chores comigo; sente-me, hoje estou assim, choro porque quero ser o teu poema de amor-perfeito.
Um poema de amor é intemporal e terá que dizer sempre: sou e serei sempre teu eternamente. Todas estas palavras juntas, são apenas para te fazer sentir especial, mais especial do que ontem, em que ainda não tinha escrito este poema de amor, mas já o sabia desde a primeira vez que te vi.

Um poema de amor tem que saber dizer: agora tu também sabes desta minha dor interminável, ainda é a mesma, aquela dor de que um dia te falei. É a dor que corre dentro de mim, na tristeza do dia em que te disse mas na alegria das minhas memórias, mas não interessa porque hoje tenho este poema de amor que é apenas o meu poema de amor para ti.
Um poema tem que ter toda a vida, aquela que está, afinal, em cada sílaba, tem que ter a cor e a fantasia que a vida sempre cria com o nascer do sol, tem que ter aquele - SIM ACEITO, especial, que nos obriga para sempre a tudo se tornar num poema de amor.

Um poema de amor é uma confissão que olhos não necessitam de ver, é um tratado de amizade tão especial que nenhuma palavra do mundo é capaz de dizer o que afinal deveria ser um poema de amor entre todos os homens e mulheres que nascem um para o outro.
Um poema de amor tem em cada palavra uma mão que te afaga e, entre cada palavra, nos espaços vazios, estão os segredos que não podem ser contados, porque são segredos de amor verdadeiros, que só tu e o teu amor os compreenderão.
Um poema de amor é um foral de lealdade selado pelo acariciar das mãos, pelo tocar dos olhos, e dos lábios nascer apenas a palavra mais verdadeira e que apenas o momento de todos os momentos da vida é capaz de construir, amo-te meu amor, amo-te muito.

Nasceu então um poema de amor eterno, e mesmo que mais ninguém o saiba ler, ou apenas dizer eu também gostaria de ter este poema de amor como meu, não interessa, é o teu poema de amor, aquele que tu irás acariciar para toda a vida.
Um poema de amor pode até nunca ser lido ao amor da sua vida, mas não importa, bem lá no fundo, o poema sabe que existe porque o verdadeiro e único amor continua a ocupar a vida de quem escreve apenas por amor. As estrelas no céu, essas, sabem escuta-lo e, passarão a brilhar ainda mais com as lágrimas que correm do poema.


Este texto nasce após leitura do poema “AQUÉM” da nossa colega Luso, Ana Martins. Dedico-lhe esta minha reflexão em forma de agradecimento pelo belíssimo poema com que presenteou os seus amigos e leitores. Obrigado por fazeres parte deste nosso escrever.


AQUÉM

Esquálidos versos
cinzelam minhas mãos
Nunca uma rima
mitigará a pena
gravada no peito
Nunca uma estrofe
espelhará a dor
da tua ausência
Nunca um poema
será um hino
justo e perfeito
ao nosso amor.


Três de Março de 1980, terça-feira de Carnaval, num pequeno baile de garagem havia uma menina com 15 anos muito bonita, a mais bela de todas as meninas que naquele dia dançavam alegremente. A essa menina, de seu nome Maria João, pedi-lhe que me concedesse o prazer de uma dança. Bailamos, bailamos, sempre cada vez mais amarradinhos, tão amarradinhos que fui obrigado a pedir-lhe que namorasse comigo (era assim no passado). Passaram trinta anos e continuamos amarradinhos. Este texto também é dedicado a esta mulher fantástica que gentilmente partilha a minha vida.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Entre uma palavra e um sorriso

(foto D.M.)


Pela forma como me divido entre um sorriso e um afecto partilhado à mesma mesa dos que me quiserem ouvir, sentir e ver sorrir, está a verdade absoluta de ser eu num momento, ou eu num lamento, enquanto espero por um sorriso grandioso, que me faça ir e voltar sempre ao mesmo ponto de onde parti. Continuo a mesma a cortar o ar que respiro, só, na consolidação do tempo em que me esperava, e não me via a chegar, junto a todos os que queriam partilhar a vida de mãos dadas. Dou-as a todos os que as quiserem pegar e sentir, quantos gestos e quantas palavras, elas marcaram num conjunto diversificado de formas, que me levem a acreditar num sorriso genuíno, mas não me peçam para sentir nas palavras, o que nenhum olhar distingue. O que a minha alma me diz, enquanto elas se desmistificam, faz de mim um ser em permanente evolução. Serei sempre a parte que doarei inteira num mundo obscuro de formas e lugares, entre os demais que me quiserem seguir, serei sempre o centro, onde reside a vontade, mesmo que anulada ou estrangulada, até que me ouça num novo mundo, até que me distinga eu e só eu, na verdade das palavras ainda por escrever.

Invento-me para que me vejam mais do que simples palavras, e dou-me numa só, aquela que sempre direi, enquanto espero por todas as que se querem só palavras, quando já nada há para escrever. Ditá-las de uma forma inconsequente, é transformar os modos em formas indecifráveis, capazes até de destruir todos os sorrisos que se prestam a seguir-lhes os passos. Nada mais terei para dizer, nem tão pouco escrever, se não souber ouvi-las através da minha voz interior, que não se ouve, nem se vê e nem se sente a palmilhar o chão que meus pés pisam. Contudo, elas estão lá, sempre que fechar os olhos e conseguir decifrar as cores que as transformam em telas refinadas na arte de bem dizer.
(Caminho com elas ao teu lado, para que me decifres na quietude de todas as palavras que se encontram disponíveis, para que no silêncio, se renovem e se expandam através da criação de outras que ainda falta escrever).
Temo por elas, e por nós, seres amorfos, amortizados no mundo dos vivos e condicionados ao mundo dos mortos. Tão moribundas como nós, serão avivadas por todos os sorrisos do mundo que já viram e ouviram um sorriso profundo, chegado da viagem mais fantástica - aquela que nos eleva ao mais alto grau de sabedoria, através de todas as palavras que ainda não se escreveram, mas que esperam o grande dia, a magnificente hora de um longo sorriso, a quebrar as normas impostas por todos os que fazem das palavras, uma sátira de momentos perdidos.
Dolores Marques

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Encontros de gente

O Carnaval do Arlequim - Joan Miro

É necessário desmistificar o escritor. Acabei de ouvir isto do Lobo Antunes. Atirei-me para trás do meu eu, enterrei-me na procura da minha benquerença pelas pessoas. Gosto de pessoas, depois gosto de quem escreve, como gosto dos que não escrevem mas que falam, dos que fazem alegria, dos que me dizem com os gestos o que afinal nenhuma palavra é capaz de dizer: - estamos a viver, estamos a ser felizes, naquela quantidade certa que faz de nós apenas pessoas como sempre fomos. Posso então emergir do conforto do anonimato, da solidão, do silêncio. Encontro gente como eu, gente que também vive num mundo seu e que eu afinal desconhecia, gente com medo de viver, apenas viver. O tempo perde agora parte da sua importância e os temores acabam por se ajanotar para a romaria da confraternização. O medo de não saber escrever, de dar erros, das concordâncias traiçoeiras, das formas mal amadas da poesia pessoal, que não traz afinal vida para dentro de que a lê. Sucumbiu, entregou-se de mãos algemadas ao momento, afinal o que gosto mesmo é de viver. Gosto tanto da cultura do sorriso, da vontade de rimar com todos aqueles que partilham comigo um canto de uma mesa onde a arte são os sorrisos. Gosto tanto de gostar, e pelo meio até que sou capaz de fazer uma poesia de amor, ainda ontem, ao ouvido, deixei cair uma alegria edificada pelo convívio – estás tão bonita. Mas a emoção era grátis neste dia, e do outro lado uma mana, veio de longe, mas não vinha cansada, trazia uma vontade pura de me dizer que eu era importante. Mais á frente e como o vento, uns olhos negros cheios de vida, corre contra o tempo com um sorriso que abraça todos aqueles que acreditam na juventude. Gosto deste vento, é igual a um que tenho em minha casa, genuíno, puro, e capaz de fazer coisas no mundo. Esta energia é um Mar de afectos, entrega-nos o futuro com uma vontade indomável de o tornar passado. O momento ficou ao rubro, mandei vir mais uma mini, completamente atestada de álcool, há momentos que são para comemorar. Alucinei, a meu lado todos os avatares eram vida, e até os cabelos parados que olho no papel, são uma brisa, enrolam-se-me nos olhos para gritarem viva à poesia da vida. Esta foi uma noite especial, saí com a certeza plena de que um dia me tornarei num best-seller, quanto ao Nobel, que se lixe, um dia destes faremos uma fundação de gente que ama a vida para além das palavras. O prémio será uma mesa redonda de sorrisos, onde a poesia está no círculo dos avatares que riem.

José Luís Lopes

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Eu também gostava de me ser assim...no ir

(Foto Dolores Marques)

Diz-se por aí que as gaivotas voam sem destino.Eu penso que não. Já as vi em voos rectos, ou traçando semi-círculos sobre as águas, nada fazendo prever que se juntassem para que as víssemos de longe, tal é o seu trajecto nos céus, que se apresentam sempre nublados, quando elas choram e tudo lhes é negado.

Afundaram-se os barcos todos na última noite de temporal e sobre as águas boiavam corpos inchados, presos na forte ondulação. Foram estes os mais afoitos quando se atiraram ao mar, só porque ouviram um grito pensando ser tudo, menos o final dos tempos. As embarcações sofrem da miséria que as águas carregam sempre que por detrás dos detritos se encontra um corpo arrastado num qualquer convés de um barco que se perdeu. Sem bússola, deverá seguir por águas pertencentes a outros reinos, onde o inimigo espreita submergindo no meio do oceano. Os gigantes dos mares trouxeram, um pequeno astrolábio, para que dos céus, chegassem novos sinais, prontos a cair no centro da terra, mas nada viram enquanto esperavam a morte a surgir por entre as marés.

(As gaivotas traçaram novos círculos de fogo. Aguardam sempre pela volta dos ventos, pela mudança dos tempos)

Às vistas de um mundo que se prende na longevidade de um tempo morto,eu também gostava de me ser assim....no ir, mas temo que ainda falte muito tempo..Por isso, fico-me por aqui neste olhar novo, onde a memória me prende aos costumes diários, ouvindo os sons de vozes que me levam de vez em quando. São estas que me são afeiçoadas, quando se mostram únicas verdades pelo tempo, que por ser indefinido, me prende na lonjura já gasta de vários caminhos. Se me consentisse ver o que os meus olhos sempre querem, já não estaria neste desejo do querer o que não me quer, ou de ser o que não se pode. Dei sempre um sentido uniforme às linhas perpendiculares do meu corpo, mas ele, tosco por dentro e desafinado por fora, consentiu que me aplicasse também, um rosto deformado e vazio. Caminhou sempre em frente. Nunca olhou para trás, porque se o fizesse, assumia-se perdido para sempre.

Dolores Marques

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carta de um Pai ao seu filho Luís – Entrega das Insígnias


Hoje nada acabou, hoje tens um novo começo, um novo rumo. Hoje, deixo-te com asas que um dia foram minhas. Partirás, mas para mim nunca sairás de onde nasceste, é de dentro de mim que voarás em cada dia da tua vida. Serás sempre os meus olhos, serás sempre as minhas mãos, serás sempre o fruto que um dia coloquei dentro da barriga da tua mãe. Hoje, choro de alegria por atingires uma montanha maior do que a minha. Sei que levas tudo que um dia me propus ensinar-te, talvez não o tenha feito da melhor maneira, nem com a sabedoria que merecias, mas és meu filho, e um filho é tanto, que muitas vezes embarga a razão. Hoje, trazes para dentro de mim a paz que um dia sonhei, atingiste os teus objectivos, e eu por aqui me fico imaginando que tudo será sempre belo para ti. Hoje, o dia tem o mesmo brilho daquele em que pela primeira vez me disseram que era Pai. Tinhas-me tornado num homem, queria-te tanto, sonhei tantas vidas para ti. Nesse dia, aprendi a viver para ti, prometi-te que estaria presente em todos os dias da tua vida, e te defenderia de todo o mal do mundo. Prometi-te que nenhum dos meus erros seriam trilhados por ti por desconhecimento, prometi-te, que te amaria para lá das minhas forças, prometi-te, que iria ser Pai mesmo que tu em momentos pudesses duvidar se Pai era o que eu era naquele momento. Prometi-te, que seríamos os melhores amigos que alguma vez o mundo viu, sem nunca perder o discernimento de te dizer a verdade mesmo que esta me magoasse. A tua felicidade estaria sempre em primeiro lugar. Prometi-te, que estaria sempre de mão estendida para o bem e para o mal. Assim foi, e assim será para o resto dos meus dias, pois um filho é para sempre, não tem idade, não tem estatuto social, não é pobre nem rico, não tem só virtudes. Contarás comigo também nos teus erros, sempre. Hoje sou, então, verdadeiramente Pai. Cumpri, também eu, com o meu objectivo, deixar-te com a humildade de seres sempre o meu filho, o neto da avó Carolina que, como ela te disse, tanto te queria dizer e quando chega ao pé de ti diz que não se sabe exprimir; do avô Lopes que, lá no cimo, esboça aquele sorriso que tantas vezes lhe vi, enquanto te via crescer; da avó Teresa, do avô João, dos teus irmãos, da Andreia, dos teus tios, primos, e da Ua, aquela que primeiro me ajudou a crescer e depois fez o mesmo contigo e, claro, dos amigos, de uma árvore que eu sei que ainda agora começou. Hoje sei que este é o teu dia de festa, mas é também o nosso dia, o de todos aqueles que gostam de ti. Hoje, vou ser muito feliz, tão feliz que apenas no meu olhar vais reconhecer o teu Pai, hoje é um dia tão grande para mim, ai como eu queria abraçar este dia para sempre, queria meter-te dentro desta minha alegria e levar-te por todos os dias que vivi dentro de ti. Este Hoje, nunca será amanhã para mim, ficarei aqui sempre, dormirei debaixo do teu sucesso, do nosso sucesso, da nossa alegria, como é bom ser teu Pai. É tão bom, meu filho, tão bom, não queria acabar nunca esta carta, é tão minha, tão sentida, tão cheia de amor, tão enorme, que apenas me apetece amarrar-te, abraçar-te, beijar-te e dizer que estou orgulhoso de ti. Não é uma carta, é a alma dos nossos antepassados a dizer que agora serás tu a escrever a tua vida pelo teu punho.

És o três em volta do “L”, a corda que amarra o nosso sangue e que jamais se quebrará. Prometemos uma ligação eterna: o sol, sem o qual nunca serás capaz de fazer da tua vida uma caminhada feliz, soalheira, transparente, tranquila e em harmonia contigo; o Olho representa a visão, a capacidade de saberes ver o mais correcto para ti mas essencialmente para os que estão ao teu lado; a lágrima dividida é o suor e sangue que sempre tem as estradas honradas. E, no sangue deste número, o três, porque ao teu avô lhe demos o um, tens as letras que te alumiarão o teu caminho, F, família sempre, será nesta que encontrarás os valores que farão de ti um homem mais sábio; V, verdade, a vida constrói-se com verdade; T, trabalho, nada crescerá se não for fruto das tuas mãos; B, Belo, o gosto pelas artes, se não gostares das artes nunca compreenderás o mundo; H, honra, não necessita de definição, tu sabe-la; D, desfavorecidos, a vida não é lucro ou poder e, por isso mesmo, terás que encontrar tempo na tua vida para dar àqueles que nunca o tiveram, terás que respeitar sempre os que de ti dependem, terás que dar sempre um pouco do que tens a mais para os que têm a menos. Tu sabes que foi assim no passado, tenho a certeza que será assim no futuro.

Assim és, assim serão os teus filhos. Eu sei, sei porque sou teu Pai e um Pai sempre sabe tudo dos seus filhos.



Braga, 01 de Maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Cravos Vermelhos

Pablo Picasso - Liberdade Plena

Os crentes adormecem; sim, eu adormeço. Sou crente e sonho com um mundo redondo, geometricamente perfeito, onde os sonhos são a realidade e a realidade sonhos fedorentos atirados ao caixote do lixo. Apodrecendo em dores vomitadas pelo pensar fica a escrita, umas vezes em sonho, outras em sangue que escorre pelo olhar da realidade.
Ainda há esperança, um dia não acordo e os aromas podres da decomposição terminarão.
Teremos então todos, mesmo todos, um cravo vermelho, nas mãos, que sabe escrever.

José Luís Lopes

terça-feira, 27 de abril de 2010

Há pão neste meu Abril

Vieira da Silva - 25 de abril

O padeiro do meu bairro, homem honrado pelas mãos que há muitos anos dá forma ao pão que chega à minha casa, lamentava-se que tinha perdido o cravo vermelho que, com carinho, tinha aconchegado à lapela da camisa branca pela manhã.

Estava triste, e a cada interrogação dos seus clientes logo se aprontava a dar uma explicação que não era explicação, principalmente para os mais novos.

Chegou a hora do almoço, e na mesa que sustenta a família, que um dia jurei proteger, estava o pão que o meu padeiro fez neste dia especial de Abril. Abri o pão, do seu interior brotou um cravo vermelho. Fez-se Abril em minha casa, afinal, tenho que continuar a comemorar Abril.

Há pão neste meu Abril, mas não há Abril em todos as casas que um dia acreditaram nos cravos de Abril.

25 de Abril de 2010