Diz o “poeta” que teima em escrever: A grandeza da escrita passa pelo não silêncio. Diz o provérbio chinês: “Nada digas quando o saber te diz para permaneceres em silêncio”. Porra, já não basta a loja dos chinocas e agora ainda tenho que lhes aturar os provérbios. Como não digo o que quero dizer sem dizer? Esta coisa de pensar é uma chatice enorme, digo eu que gosto de provérbios sábios que não interfiram com a minha liberdade. Se nada deves dizer ao Poeta que sabe escrever, como faço para que o Poeta, que teima em escrever, saiba que nada me obriga intelectualmente a nada lhe dizer? Vou ter que lhe dizer, imperativo de ordem moral. Porra, isto está a ficar confuso para mim. Logo, tudo que eu penso sobre os provérbios cai por terra ao dizer ao Poeta que sabe escrever, e nunca mais vou poder guardar provérbios como exemplos de vida. Merda, a minha casmurrice obriga-me a fazer isto ao Poeta que teima em escrever. Já não é só o imperativo moral que está em causa, mas a minha capacidade de jamais vender a minha liberdade. Nasci selvagem e assim morrerei. Pensando bem, vou arranjar uma tripla maçada. Se opto por cumprir o provérbio fico a remoer. Fico aborrecido comigo, mas cumpro o provérbio sábio. Os remorsos irão corroer-me por dentro até que a alma vomite a covardia. A opção seguinte, é deitar para trás das costas o provérbio e faço do Poeta que sabe escrever, o que sempre faço com todos aqueles a quem tenho algo para dizer: digo na cara, sem medo das canetas, do génio, das artimanhas, das facas e canivetes, das multidões, dos tarecos e até dos lampiões que alumiam a passadeira vermelha. A última opção e realmente a mais sábia é mandar-me abaixo de Braga e digo-me: és um poeta da merda que tentas escrever mas não fazes da escrita a tua vida, não ganhas dinheiro com ela e pelo contrário, dás a ganhar. Tens sempre que pensar e dizer o que pensas e acabas por gastar tempo com poetas que ainda são menos do que tu. Esta mania de dares pérolas a porcos. Sendo assim, com os tarecos jamais perderei o meu tempo, só falo ao chefe e quando eu entender. Deste corpo com alma, apenas conheço a minha vontade, o resto, são restos que caminham por aqui, buscando a glória que nunca tiveram. Haja piedade pelos moribundos que escrevem.
José Luis Lopes
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