COSTA JÚNIOR - 'Carpideiras'
Em tempos idos, contratavam-se para incorporar os funerais, umas senhoras pagas que tinham como função, chorar para fazer crer que o defunto era muito querido no seu habitat. Davam pelo nome de carpideiras. Nome pomposo, bem engendrado, tinham quase sempre trabalho assegurado e assim, viviam à custa da desgraça dos outros. Esta treta toda para dizer que aqui no Luso é o contrário, o carpideiro, não chora, nem lágrimas tem, veste-se de escritor e escreve imaginando que sabe redigir com afinco, as palavras difíceis.
Busca-as constantemente nos dicionários dos consagrados, traz umas quantas para a sua algibeira, mistura-as, e vai colocando uma a uma acreditando que vem da linhagem do Eça, inclina a folha sempre que imagina que vai botar algo especial para o papel, capaz de arrebatar um qualquer prémio literário. Este (papel) não acaba em nenhum Top de autores, mas acaba por se tornar mártir, pelos maus tratos a que esteve sujeito. Pendurado no poder, arroga-se em dores que não lhe pertencem, imaginando que a distância entre a folha e o papel o protege dos maus vizinhos. Vive à custa dos outros e de favor em favor, lá lhe dão um premiozinho encomendado.
É a vida de um tareco com mangas-de-alpaca, nada que não seja notícia nos nossos telejornais. Diariamente, são eles os Job for the boys, traduzindo em linguagem poética dá mais ou menos – trabalho para os que não sabem fazer merda nenhuma. Isto é, vive também á custa do que os outros fazem. Assim nasceu este meu texto, alinhavado ao menino que se julga homem, ao roto que ainda não descobriu que vai nu, ao pobre coitado, que, ainda não descobriu que a escrita serve para agredir, mas também, serve para levar com as palavras aguçadas por escribas como eu, que não querem coisa nenhuma, de gente que não é coisa nenhuma. É bom que se habitue ao contraditório, é bom que não veja no avatar fraquezas, é bom que saiba que a injustiça me fará perfilar na dianteira das palavras e de lança na mão, defenderei com honra a verdade, mas principalmente os mais indefesos e que em mim acreditam.
Quanto aos mangas-de-alpaca que por aqui gravitam, podem sempre escrever o que bem entenderem, eu gosto, e cá estarei para as curvas. Jamais ficarão sem resposta, verão até onde vai o tamanho da minha pena.
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