Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770) - A Cólera de Aquiles
Houve um tempo em que os cordeiros falavam, pintados em paredes de sangue diziam aos deuses que a vida existia, acreditavam na salvação. As lanças eram os sinais do contraditório, os montes, locais de refúgio para crentes que imaginavam pedras gravadas pela força dos raios.
Cá por baixo, junto dos plebeus, a arte de não pecar confundia-se com a vontade da salvação. Os leões esfomeados do passado são o liberalismo (económico) selvagem de hoje, roubam a dignidade a crentes e não crentes. A “societé” do antigamente vivia em colunas jónicas, como hoje vive em colunas sociais, sempre amigos dos donos das lanças, imperam em sua defesa os mesmos senhores que em tempos perseguiam os que oravam em oposição.
Os escravos de ontem afinal são os de hoje, difere a arena da diversão; esta, hoje, é o instituto de desemprego e formação profissional. No passado, apenas uma religião era capaz de fazer sofrer o pecador inocente. Hoje, estes judeus procuram não só os primogénitos, mas também todos os que nascem marcados pelos sinais do tempo: todos saltarão para o teatro dos sonhos perdidos. Para trás, fica a História, mas a perseguição continua.
Aos leões juntaram-lhe os impostos, as taxas moderadoras, as propinas, a insegurança, a corrupção. Na tribuna de honra, o dedo indicador aponta sempre para a terra. Do pó vieste e para pó voltarás. Pena é que apenas na terça-feira receba o senhor numa casa que já não é minha, é o senhor das penhoras. Páscoa Feliz.
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