terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Futebol jovem: Onde nasce a vergonha









No sábado fui à “bola”. O meu filho, pela primeira vez faz parte de um clube de futebol, O Maximinense. Nunca fui muito destas coisas da bola para jovens, sempre exigi muito mais dos meus filhos do que andar a correr aos chutos a uma bola, sim, porque isto de “Ronaldos” são meia dúzia de casos, e eu prefiro as certezas do conhecimento adquirido, fruto do esforço de correr atrás dos livros. Com dezasseis anos, no décimo primeiro ano, com notas sempre acima da média, acordei com o meu filho, as regras que determinariam a sua continuação ou não, no mundo do futebol. Sei que o desporto faz falta, mas sei também que é agora o momento mais crítico do seu percurso escolar, e brevemente serão determinantes as décimas para poder entrar num curso que destinará para o bem ou para o mal, o resto da sua vida tanto pessoal como profissional. Nesse momento não haverá “futebóis”, recargas, bolas à barra, nem sorte ou azar, e muito menos a desculpa por o árbitro não assinalar a grande penalidade mais que evidente. Todos sabemos como vai ser o seu jogo no mercado de trabalho, e há uma grande possibilidade de ficar no banco dos desempregados a engrossar as listas de jovens licenciados à procura do primeiro emprego.

Mas, preocupações para os pais existirão sempre, com mais ou menos emprego, e como Pai que sou, resolvi apoiar o meu filho, dizer-lhe que não é apenas no sucesso dos seus estudos que estou a seu lado, mas também no prazer dos tempos livres a que tem todo o direito pela sua conduta na vida escolar, e por isso, fui vê-lo jogar.

Entrei no campo, felizmente ainda não se paga para ver os miúdos jogar, o nosso Primeiro ainda não se lembrou de mais esta fonte de receitas para ajudar a pagar o défice. Sentei-me calmamente na bancada de cimento, mais ou menos a dois metros do relvado, e ao centro do rectângulo, com a claque do Realense a uns dez metros à minha direita. Supostamente os adeptos da casa estariam à minha esquerda.

O jogo começa a desenrolar-se, no mesmo instante que a bola começa a saltitar um sujeito no banco do Realense (quis me parecer que talvez fosse o treinador), berrava com quanta força tinha nos pulmões. Pensei que o pobre homem, a todo o momento poderia sucumbir de uma qualquer síncope pulmonar, fiquei preocupado! Mas até aí tudo bem, o dito senhor deveria saber o que estava a fazer. Para meu espanto, e que grande espanto, o treinador, insultava os seus jogadores de todos os nomes e mais alguns. Ficou-me nos ouvidos quando em pose de MISTER o sujeito disse: - ó paneleiro …, qualquer coisa mais, sem valor futebolístico. Um pequeno exemplo insignificante, para a linguagem em constante ligação directa aos piores vocábulos que o Mister tinha em algibeira, para fazer subir o rendimento dos seus pupilos.

Não quis acreditar no que estava a ver e a ouvir! Era demais para um Sábado de sol, como aqueles em que antigamente as esposas ficavam a fazer tricô nos carros sem medo de serem assaltadas, enquanto os maridos assistiam aos jogos de futebol. Bons tempos estes da minha juventude.

Voltando à realidade, interrogo-me: Mas é um sujeito destes treinador de jovens? O Mister, como diz o meu filho? É com este senhor que os pais deixam os seus filhos treinarem semana após semana? Pensei e falei para com os meus botões: O meu filho, nem um minuto ficaria ao lado daquele “treinador”. Desporto juvenil (e não só) não é isto! Um sujeito armado em Mister, que possivelmente nunca conseguiu treinar uma equipa da regional, é agora o “exemplo” de um grupo de jovens, e completamente tresloucado chega a um lugar público, onde há mães, irmãs, amigos ou seja lá quem for, e liberta todas as frustrações de uma vida, armando-se em treinador duro, daqueles que está convencido que é com aquela linguagem que faz homens de barba rija. Senti vergonha e não queria acreditar que o sistema permita que alguém com aquela conduta esteja à frente dos seus jovens.

Mas o mais grave, é que havia uma “claque” de Real, possivelmente composta por pais de alguns miúdos, que para que o seu Mister não se sentisse sozinho, insultava o árbitro e o juiz de linha, com todos aqueles adjectivos que o futebol já nos habituou. Nem queria acreditar, como é possível que os pais dos miúdos tenham um comportamento pior do que o seu “Mister”? Como não consegui entender, imaginei que talvez estes paizinhos também treinem com o dito Mister durante a semana, para que depois nos jogos estejam todos em sintonia, e não destoar do cômputo geral do “bom desportista” que se vê nos nossos campos de futebol. Não tenho dúvidas que o Real tem uma “grande equipa” daquilo que não se deve ter no desporto. Mister e claque podem chegar longe e levar o nome da sua terra à glória. Diria mesmo que já atingiram um feito: ao fim de duas jornadas, já estão no jornal. Depois, dizem que os miúdos agridem os professores, insultam os colegas, e tem linguagem imprópria, não me admira! Diria mesmo que com um Mister assim, todos os miúdos podem tirar vinte à disciplina de português, e quando algo correr mal na sua vida profissional, num futuro próximo, podem sempre recorrer aos métodos do “Mourinho”, do Realense, para resolverem um qualquer diferendo ou até incentivar um amigo e mais tarde os seus filhos. Resta-me dizer, que os miúdos em campo, deram uma lição aos adultos que estavam na bancada, as duas equipas foram brilhantes, em futebol e educação. Quanto ao árbitro e seus adjuntos, bem! Reconheço que deve ser muito duro andar no meio desta selvajaria. Eu, garanto-lhes que saía do campo, entregava o apito a um dos paizinhos, e mandava-o arbitrar. Tenho a certeza que não o saberia fazer. Se mandasse talvez os mandasse arbitrar como trabalho comunitário, ou então obrigava-os a frequentar um curso intensivo de como ser pai e dar o exemplo aos filhos em noventa minutos de desporto. Agora percebo muito do que vejo acontecer nos nossos estádios de futebol. Percebo porque estão vazios, e o porquê das cenas vergonhosas que passam, e entram pelas nossas casas. Só não entendo é porque a Associação de Futebol de Braga, ou quem de direito que coordena este sector, não actua e mete ordem nesta ordinarice. Independentemente da sua formação futebolística, com curso ou não de treinador, o importante é que prevaleça os princípios básicos da boa educação, sendo este, um complemento aquela que é dada pelos pais, pelos professores e toda a comunidade educativa que os acompanha.

É necessário um presidente de um clube com responsabilidade, saber que é da sua responsabilidade dar bons exemplos aos jovens da sua freguesia, e no mínimo, uma comunidade que não deixasse cair os seus filhos nas mãos de um pseudo-treinador, mal-educado, e incapaz de ajudar a construir homens válidos para o futuro.

Já disse ao meu filho que não mais voltaria a ir ao campo, e no meu caso, nem necessário é a direcção pedir para fazer boicote aos jogos. Não fui capaz de impedir o meu filho de continuar a jogar o seu futebol, o treinador do Maximinense portou-se dentro dos parâmetros do que deve ser um Mister de miúdos, mas em boa verdade vos digo; se o treinador fosse por acaso o do Realense, aí era certo, que o meu filho nunca mais entrava no clube enquanto aquele senhor por lá permanecesse.


PS. Não quer dizer que do lado do Maximinense não houvesse ruído. Houve! Mas graças a Deus apenas o que é “normal” num campo de futebol. Para a história ficou o resultado: Maximinenese – 0, Realense – 1, o que seria se tivessem perdido? Nem quero imaginar.

 
José Luís Lopes



4 comentários:

  1. Caro JLL , não comento ! Ou comento ? Ocorreu-me o exemplo dos mancebos ou recrutas (apesar de estes serem adultos)que são treinados para defender os mais altos valores da nação ... pois é , por demasiadas vezes , o chefe de pelotão é tão igual de semelhante a esse Mister ... Será essa a razão porque tantas vezes o resultado é Portugal=0 X Outros=1 ?
    Grato pela partilha .

    Feliz Natal e Ano Bom de 2011 !

    Cumprimentos.

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  2. Caro Luiz!

    Pois é assim infelizmente uma parte do mundo que nos rodeia.
    Nada podemos fazer objectivamente, resta-nos escrever e denunciar o erro.
    Obrigado, mais uma vez, pela companhia na minha escrita.
    Desejo-lhe um Feliz Natal
    Abraço

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  3. BOA NOITE PASSANDO PARA DESEJAR UMA FELIZ SEMANA BJ

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  4. Obrigado Brisa,

    Uma boa semana também para si

    Beijo

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